Desde 2011, acompanhamos de perto as mudanças na mobilidade brasileira – em especial os projetos de incentivo e lançamentos como o eVTOL “voador”, da Embraer
Anunciado pela Embraer nesta semana, a Eve Urban Air Mobility fechou parceria com a Helisul Aviation em projetos de mobilidade aérea urbana no Brasil. O chamado veículo elétrico de decolagem e pouso vertical (eVTOL) teve um pedido inicial de 50 unidades com entregas previstas a partir de 2026. Apelidado de “carro voador”, o eVTOL decola e pousa de forma vertical, funcionando como uma espécie de helicóptero, com hélices diferentes que permitem maior suavidade nos deslocamentos.
2021 marca a primeira década de atuação do iCities, hub de soluções para cidades inteligentes que fundamos em meados de 2011, ainda num contexto em que falar sobre smart cities gerava desconfianças e incertezas no poder público e na iniciativa privada. Esses dez anos também foram marcados por profundas evoluções na mobilidade brasileira, que pudemos acompanhar de perto em nossos eventos. Dez anos depois, podemos dizer sem exagero que os carros elétricos e “voadores” deixaram de ser um sonho futurista…
Mas as perspectivas não eram tão claras quando a expedição Fiat Palio Weekend elétrica foi lançada em Los Angeles (Estados Unidos), em abril de 2011. Uma reportagem da época registrou que “a perua movida a eletricidade” enfrentou altitudes de até 5,4 mil metros no Equador e 17ºC negativos no Chile, em sua jornada de 20 mil quilômetros rodados pela América do Sul. A expedição entrou no Brasil pela Usina de Itaipu e percorreu 5 mil km até o fim da viagem – que buscava promover a eletromobilidade em tempos pioneiros, ainda com um modelo eletrificado da Fiat.
Também neste período, até o início de 2012, vimos o nascimento do maior portal do Brasil focado em mobilidade urbana sustentável, criado por Ricky Ribeiro, parceiro do iCities que se tornou nosso palestrante e aluno do curso Smart City Expert, de capacitação em smart cities. “As maiores mudanças em uma década ocorreram fora da esfera pública local. As empresas foram as grandes responsáveis por alterações na circulação de pessoas e de mercadorias nos últimos dez anos. Novas tecnologias e aplicativos ditaram tendências e mudaram comportamentos tanto no transporte individual, como no transporte coletivo e nos modos ativos. É visível que aumentou a conscientização das pessoas, o espaço na mídia e as organizações que atuam com a causa”, conta Ricky.
Especialistas reunidos
Já em 2013, a segunda edição do Fórum Internacional iCities reuniu pela primeira vez no Brasil os maiores especialistas em eletromobilidade da época, mostrando que o mercado de veículos elétricos (VEs) chegava para ficar. Recebemos mais de 30 palestrantes nacionais e internacionais, tanto na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras, quanto no Fórum Internacional, eventos simultâneos que aconteceram na Universidade Positivo, em Curitiba. Vale lembrar que as edições do Fórum Internacional iCities (de 2012 a 2015) foram o “embrião” do Smart City Expo Curitiba (SCECWB), maior evento brasileiro de cidades inteligentes, que realizamos desde 2018 com a chancela da Fira Barcelona.
Ainda neste evento, nosso envolvimento com a eletromobilidade ficou marcado com a presença da maior frota de VEs em teste drive para validação pública, que foi usado para homologação e emplacamento do Renault Twizy no Brasil.
Em 2016, já em parceria com a Sartor, fizemos no Rio de Janeiro o Connected Smart Cities, que se manteve no ano seguinte já nos preparativos para o SCECWB 2018. Este foi o ano em que tivemos a Copel (Companhia Paranaense de Energia) e a Itaipu Binacional reunidas em nossa programação, apresentando seus projetos de eletrovia e eletromobilidade, para um público de mais de 5 mil pessoas de todo o país e do exterior, no Expo Barigui, em Curitiba.
Incentivos públicos e infraestrutura
A coroação desse movimento veio em 2019, quando o governador Ratinho Júnior sancionou a isenção do IPVA para veículos elétricos no Paraná, durante a segunda edição do Smart City Expo Curitiba. Também foi reduzido o ICMS para produção de VEs no estado. Essas medidas de incentivo à eletromobilidade, como já abordamos antes nessa coluna, estão inspirando outros estados desde então, como São Paulo.
Cenário que cresce a olhos vistos: uma previsão do BCG aponta que em 2030 os veículos elétricos vão representar 5% da frota brasileira. Com aumento das frotas e dos lançamentos, as redes de abastecimento precisam ser expandidas pelo país.
Com isso, não são de espantar os anúncios de “voadores” como o eVTOL da Embraer e lançamentos de VEs que vemos nos últimos anos, como Renault Zoe, Nissan Leaf, Chevrolet Bolt, SUV Jaguar I-Pace, JAC iEV 20, BMW i3 e outros. Esse “combo” de carros, carregadores e geradores solares estão unindo montadoras e distribuidoras de energia, numa colaboração que tem tudo para ser frutífera ao país.
Que venha a próxima década de mobilidade sustentável – elétrica e voadora!
*Beto Marcelino é engenheiro agrônomo, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities.