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O que as cidades (e as pessoas) ganham com os Distritos de Inovação?

22@ barcelona

A inovação é frequentemente citada como o campo de batalhas da competitividade internacional do século XXI e as cidades vêm sendo vistas como caldeirões de inovação, enriquecendo não somente seus entornos, mas também as nações como um todo.

Estamos vivenciando uma transformação massiva em nossas cidades, mudanças fundamentais na natureza do trabalho, nos seus ambientes e nos seus protagonistas. As cidades competem entre si para atrair não somente novas empresas e investimentos, mas também trabalhadores de conhecimento especializado para desenvolvimento do capital humano e a capacidade de inovar. É a famosa economia do conhecimento.

A grande questão é: quais são os fatores que tornam as cidades, ou parte delas, atraentes para que a economia do conhecimento possa criar um círculo virtuoso para os cidadãos?

Uma das respostas mais aceitas atualmente – e vou trazer dados para provar – é o desenvolvimento dos Distritos de Inovação. De forma resumida, um distrito de inovação é uma zona ou região dentro de uma cidade onde agentes públicos e privados trabalham em harmonia para atrair empreendedores, startups, incubadoras de empresas, geralmente com o objetivo de revitalizar áreas urbanas degradadas, em sua grande maioria áreas centrais.

O caso do 22@ em Barcelona

Como grande parte das cidades que cresceram em torno da indústria a vapor, Barcelona passou por um período de obsolescência entre as décadas de 1960 e 1990, quando a indústria têxtil já entrava em decadência. Barcelona estava diante de uma transição econômica e gestores e órgãos locais se fizeram uma pergunta: que medidas podem ser tomadas para modernizar a cidade, ao mesmo tempo em que atualizamos nosso modelo econômico?

A resposta foi que no ano 2000 o Distrito 22 ganhava um novo nome, o 22@ ou @22, que começou como uma iniciativa do governo para transformar o esquecido distrito histórico do algodão de Sant Martí em um centro de conhecimento em expansão.

Essa é uma imagem de como era o distrito antes.. e o depois:

A virada trouxe muitos conceitos de smart cities para o projeto. O plano foi de desenvolver em três etapas o que seria um dos maiores cases de sucesso de uma smart city no mundo. Vamos ver quais são elas:

A primeira fase foi criar uma infraestrutura inteligente.

O novo plano diretor visava a criar 4 milhões de metros quadrados de espaços de escritórios, centros comerciais e de pesquisa e trazer uma nova vida a 35 km de ruas. 220 mil metros quadrados foram dedicados a novas instalações públicas e espaços verdes, bem como a empreendimentos residenciais, incluindo habitação social. O projeto pretendia manter 4.614 moradias na área e criar 4 mil novas unidades habitacionais subsidiadas pelo Estado.

Embora cada um dos clusters da indústria seja segregado em áreas distintas, contendo áreas residenciais e amenidades, eles são unificados por aquecimento e ar-condicionado centralizados, distribuição de eletricidade, eliminação de resíduos, infraestrutura de telecomunicações e sistemas inteligentes de gerenciamento de tráfego.

A proximidade das áreas dentro do distrito de inovação garantiu sua coesão. Mas o mais importante: os espaços públicos e a infraestrutura de transporte ligam o bairro ao centro da cidade, a apenas dois quilômetros de distância. O 22@ parecia, à primeira vista, um típico projeto de regeneração urbana, mas com a infraestrutura bem replanejada o bairro estava pronto para dar o próximo passo.

A segunda fase foi iniciar a criação do ecossistema pela economia inteligente.

Para isso, os idealizadores do 22@ definiram cinco grandes clusters da economia:

  • a indústria de mídia
  • a indústria de energia
  • a saúde
  • a tecnologia da informação e comunicação (TIC)
  • e o design (grande vocação da cidade)

Sim, tão diverso quanto isso!

Assim, iniciou-se um trabalho de atração de instituições ligadas a esses clusters. Os atores incluíam empresas, instituições sem fins lucrativos, universidades, centros de pesquisa, incubadoras, investidores e empreendedores.

A criação do MediaTic (imagem acima) também foi um marco para o desenvolvimento deste ecossistema. O primeiro destaque é para a sua estrutura, construída com preceitos de construção inteligente e sustentável.

No âmbito dos serviços, o MediaTic serve como um centro de suporte de negócios, com o Business Services Office, um espaço chave para grandes e pequenas empresas em Barcelona, ​​que reúne uma série de serviços como pedido de alvarás, apoio ao empreendedor, suporte a investimentos, entre outros. Também inclui uma série de iniciativas organizadas pela Barcelona Activa, uma instituição de promoção de negócios gerida pela Câmara Municipal de Barcelona.

A terceira etapa foi o desenvolvimento de uma sociedade inteligente e inclusiva.

Com a infraestrutura modernizada e o ambiente econômico preparado, a grande sacada dos idealizadores do 22@ foi trabalhar fortemente na retenção dos talentos existentes e na atração de novos talentos de outras cidades.

Como conseguiram fazer isso? O distrito foi projetado para atrair e agregar empresas internacionais, que geram uma grande oferta de empregos da nova economia, a economia do conhecimento. Além disso, o fato de ter sido projetado para ser um lugar atraente e empolgante para se viver, com parques, áreas verdes e um comércio ativo e diversificado, exerceu um papel essencial para esta finalidade.

Curiosamente, de acordo com Josep Piqué, um dos idealizadores e gestores do projeto, um dos indicadores utilizados pelo 22@ para medir o avanço da economia do conhecimento é a quantidade de desenvolvedores de software existentes por m² de área construída.

Um dos grandes desafios dos polos de inovação em todo o mundo é a valorização imobiliária. O Vale do Silício O plano do 22@ foi desenvolver habitações sociais, mantendo os moradores no bairro por meio de um programa de incentivo do governo.

Assim, dez anos depois da criação do 22@, o distrito de inovação já contava com 114.000 m² de novas áreas verdes e 7 mil empresas, negócios e comércios, sendo que metade delas se mudaram para o distrito após o ano 2000. Dentre essas empresas, destacamos a Indra, uma das maiores empresas de tecnologia e smart cities da Espanha, além da Telefônica e T-Systems.

Destacamos ainda a Torre Abgar, símbolo icônico de Barcelona, que foi construída em 1999 para sediar a empresa que fazia a gestão dos recursos híbridos da cidade e em 2013 foi vendida para um grupo imobiliário para a criação de novos escritórios. O distrito também teve um aumento de 23% no número de moradores, e conta com a circulação de mais de 90 mil funcionários.

O bairro 22@ se tornou um dos maiores cases de sucesso mundialmente. Nele encontramos um grande projeto que colocou em prática o conceito de Triple Bottom Line da sustentabilidade, integrando desenvolvimento econômico, social e ambiental. Hoje, o 22@ também é reconhecido por seu modelo de design urbano inovador e planejamento para cidades em todo o mundo.

Dentre as principais lições que este projeto traz, podemos destacar:

  • O planejamento envolvendo a Tríplice-Hélice, para que seja um projeto que permeia diferentes gestões municipais
  • A importância da infraestrutura urbana para a atração e retenção dos talentos e empresas, aspecto direto de uma smart city
  • A viabilidade de se pensar em aspectos socioambientais de forma holística.

De acordo com um artigo de Nate Storring (abril, 2019)*, os distritos de inovação se parecerão cada vez mais com os distritos de mercados públicos de 100 anos atrás do que com os distritos financeiros de 50 anos atrás. Isso porque há 100 anos era mais comum as pessoas se encontrarem nas ruas do que dentro de grandes edifícios corporativos.

O grande desafio é a articulação correta dos agentes públicos e privados para que os projetos possam sair do papel.

Missão Técnica para Barcelona e o 22@

Desde 2017, em parceria com a Global Business, liderada por Carlos Olsen, e a La Salle Technova, liderada por um dos idealizadores e gestores do 22@, Josep Piqué, o iCities realiza missões técnicas com empresários, diretores e gestores públicos de todo o Brasil para buscar formas de como trazer este conceito para cidades brasileiras.

É possível incluir a missão como módulo internacional do Programa de Imersão em Cidades Inteligentes, o Smart City Expert, promovido pelo iCities Hub. Temos atualmente um ambiente regulatório cada vez mais favorável no país para desenvolvimento de ações de smart cities, bem como capital financeiro e humano, bastando unir os atores certos e fazer acontecer.

Eduardo F. M. Marques é sócio-diretor do iCities – The Smart Cities Hub , e está dedicado ao desenvolvimento de modelos de negócios inovadores. Também lidera o iCities Academy, unidade de negócio voltada à capacitação dentro do Hub.

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iCities - The Smart Cities Hub

O iCities – The Smart Cities Hub é uma empresa pioneira no Brasil, hub de negócios em cidades inteligentes. Fundada em 2011, atualmente promove uma jornada em busca de beneficiar as Cidades Inteligentes, na qual conecta as empresas e governos ao conhecimento e aos negócios nessa temática. Dispõe da representação exclusiva da Fira Barcelona no Brasil, que possibilita a organização do Smart City Expo Curitiba, maior evento do setor no Brasil, entre outras iniciativas de fomento ao ecossistema no país, como o iCities Academy – que inclui a formação executiva Smart City Expert – e o iCities Intelligence, que fomenta negócios e soluções em todo país.